
Paleoarte:
- AVPHIntrodução
Em 1991, o paleontólogo David Gillette anunciou a descoberta do que acreditava ser o maior dos gigantescos dinossauros saurópodes. Ele o batizou de Seismosaurus halli e, com base nas partes do esqueleto disponíveis na época, estimou que o animal teria impressionantes 38 a 52 metros de comprimento. Tamanha grandiosidade faria até o famoso Diplodocus parecer pequeno em comparação. No entanto, se o Seismosaurus era de fato tão colossal, o que aconteceu ele?
A busca pelo título de maior dinossauro de todos os tempos tem sido marcada por controvérsias, especialmente desde a década de 1980. Nas últimas três décadas, diversos saurópodes foram propostos como recordistas de tamanho, frequentemente com base em fósseis fragmentados. Contudo, nem sempre essas estimativas resistiram ao escrutínio científico. O Seismosaurus é um desses casos: hoje, ele é conhecido por outro nome — mas, para entender por quê, é preciso voltar ao início da história.
Embora só tenha sido descrito formalmente em 1991, os fósseis que Gillette mais tarde identificaria como Seismosaurus foram encontrados em 1979, no noroeste do Novo México, por quatro excursionistas: Arthur Loy, Jan Cummings, Frank Walker e Bill Norlander. Eles notificaram o Departamento de Administração de Terras dos Estados Unidos, mas o órgão não dispunha dos recursos para escavar os ossos. Foi apenas em 1985 que Gillette assumiu a tarefa de coletar os fósseis para o Museu de História Natural do Novo México. O trabalho foi árduo, a enorme dimensão dos saurópodes torna sua escavação e preparação extremamente desafiadoras, frequentemente exigindo anos de trabalho minucioso.
Segundo o mapa da pedreira publicado por Gillette, os fósseis coletados correspondiam a partes da metade posterior do animal: costelas, vértebras do tronco e da cauda, além de fragmentos da bacia. Em 1991, apenas algumas vértebras caudais e partes do quadril haviam sido totalmente preparadas. Ainda assim, Gillette acreditava ter encontrado um novo tipo de dinossauro. Como esses ossos pareciam significativamente maiores do que os equivalentes no esqueleto do Diplodocus, um parente próximo, ele estimou que o Seismosaurus fosse de 150% a 200% maior do que seu famoso primo.
No entanto, conforme a preparação do esqueleto avançava, novas interpretações começaram a surgir. Os ossos caudais, inicialmente considerados parte distal da cauda, revelaram-se mais próximos dos quadris. Isso reduziu substancialmente o tamanho estimado do animal, colocando-o em torno de 34 metros de comprimento, ainda enorme, mas distante das estimativas iniciais. Além disso, características anatômicas que Gillette utilizou para justificar a criação de um novo gênero foram sendo descartadas uma a uma, à medida que o esqueleto era melhor compreendido. Em 2004, durante a conferência anual da Geological Society of America (GSA), foi anunciado que o Seismosaurus nada mais era do que um exemplar excepcionalmente grande de Diplodocus. Desde então, os paleontólogos passaram a utilizá-lo como Diplodocus hallorum, mantendo o epíteto específico original.
Esse episódio é um lembrete de que os nomes dos dinossauros são ferramentas científicas úteis, mas provisórias. Assim como na polêmica mais recente envolvendo a possível reclassificação do Torosaurus como uma forma adulta de Triceratops, o caso do “Seismosaurus” demonstra que a paleontologia é uma ciência dinâmica. Erros de identificação são parte do processo: espécies consideradas “anãs” já se revelaram juvenis de espécies maiores, enquanto fósseis fragmentados de supostos colossos mostraram-se partes comuns de animais de porte mediano. O importante é que a ciência se corrige continuamente. Na verdade, é motivo de celebração o fato de que essas correções acontecem regularmente — são sinais de que os paleontólogos estão sempre reavaliando as evidências e buscando novas formas de compreender a evolução e a paleobiologia dos dinossauros.
Etimologia
O nome Seismosaurus halli tem origem no grego e no latim. O termo Seismosaurus combinava as palavras gregas seismos, que significa “terremoto”, e sauros, que significa “lagarto”, resultando na tradução “lagarto terremoto”, uma referência ao enorme tamanho do dinossauro, sugerindo que seus passos fariam o chão tremer. O epíteto específico halli foi atribuído em homenagem a James Hall Jr., um voluntário do Museu de História Natural do Novo México que colaborou ativamente nas escavações.
Referências:
- - David D. Gillette (1991). Seismosaurus halli, gen. et sp. nov., Um Novo Dinossauro Saurópode da Formação Morrison (Jurássico Superior/Cretáceo Inferior) do Novo México, EUA, Journal of Verterbrate Paleontology, 11 (4), 417-433.