Introdução

O Itaguyra occulta é uma espécie de dinosauromorfo basal descoberta no Brasil, que viveu há aproximadamente 236 milhões de anos, durante o Triássico Médio, na região que hoje corresponde ao estado do Rio Grande do Sul. Essa espécie pertence ao enigmático grupo dos chamados “silesaurídeos”, um conjunto de animais quadrúpedes que são considerados por alguns pesquisadores como parentes próximos dos dinossauros ornitisquianos. Sua descoberta representa um importante elo para a compreensão da evolução inicial dos dinossauros na América do Sul.

Etimologia

O nome do gênero Itaguyra vem do tupi: "Ita" (pedra) e "guyra" (ave), em referência à natureza avemetatarsaliana (linha evolutiva das aves) do animal. Já o epíteto específico occulta vem do latim e significa "oculta" ou "escondida", referindo-se ao fato de que os fósseis estavam misturados com restos de cinodontes indeterminados quando foram inicialmente coletados, dificultando sua identificação. Seu nome completo pode ser traduzido como "ave de pedra escondida".

Descrição

I. occulta é conhecido a partir de um ílio esquerdo e um ísquio esquerdo, que apresentam diversas características diagnósticas distintas. O ilíaco tem uma morfologia semelhante a outros "silesaurídeos", com uma lâmina inclinada medialmente e uma crista supracetabular arredondada. Destaca-se por possuir uma crista tênue que conecta o processo pré-acetabular à crista supracetabular, uma característica que o diferencia de outros membros do grupo.

A fossa brevis, visível em vista lateral, e o processo triangular contínuo à sua borda posterior, também são características marcantes. O ísquio, por sua vez, possui um eixo alto e uma expansão distal elipsoidal, com sulco dorsal raso e estrutura robusta. Essas morfologias indicam um animal de constituição firme e talvez com capacidades locomotoras especializadas, embora o tamanho corporal exato ainda não possa ser estimado com precisão a partir dos fósseis disponíveis.

Descoberta

Os fósseis do Itaguyra occulta foram descobertos no sítio fossilífero conhecido como Santuário de Schoenstatt, localizado no município de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Os materiais foram encontrados na Sequência Santa Cruz, parte da Supersequência Santa Maria, e pertencem à Zona de Associação Santacruzodon, datada do Triássico Médio ao início do Triássico Superior. Os espécimes foram inicialmente identificados como pertencentes a cinodontes, mas análises posteriores revelaram tratar-se de um novo dinosauromorfo.

A descoberta foi publicada em 2025 por Voltaire D. Paes Neto e outros colaboradores (Flávio A. Pretto, Agustín G. Martinelli, Francesco Battista, Maurício Garcia, Rodrigo T. Müller, Mauricio R. Schmitt, Tomaz P. Melo, Heitor Francischini, Cesar L. Schultz, Felipe Pinheiro, Marina B. Soares e Alexander W. Kellner) e o material-tipo está depositado na coleção do Museu de Paleontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob os números UFRGS-PV-1365(a)-T (ílio) e UFRGS-PV-1365(b)-T (ísquio).

Classificação

Itaguyra occulta pertence ao grupo dos Avemetatarsalia, mais especificamente dentro de Dinosauromorpha, em uma posição basal dos Ornithischia, dentro dos tradicionalmente chamados “silesaurídeos”. Essa posição filogenética reforça a ideia de que os ornitisquianos tiveram uma origem mais antiga e mais diversa do que se acreditava anteriormente. A presença dessa espécie preenche uma lacuna temporal importante entre os “silesaurídeos” mais antigos e os mais recentes, demonstrando uma presença contínua desses animais no sul do Brasil durante pelo menos 11 milhões de anos no Triássico.