Dodô
(Raphus cucullatus)
Paleoartes:
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Introdução
O Dodô (Raphus cucullatus) foi uma ave terrestre e não voadora com asas atrofiadas, endêmica da ilha Maurício, no Oceano Índico, localizada a leste de Madagascar e pertencente ao arquipélago das Mascarenhas. Este arquipélago foi formado por uma série de erupções vulcânicas entre há 10 a 8 milhões de anos atrás. O Dodô até cerca de 1662 d.C., durante o Holoceno, quando se extinguiu em menos de um século após o contato com navegadores europeus. A espécie tornou-se um símbolo global da extinção causada pela ação humana.
Etimologia
O nome “dodô” tem origem incerta. Alguns autores sugerem derivação do holandês dodoor (“preguiçoso”), enquanto outros indicam o termo dodaars (“traseiro gordo”), em referência ao tufo de penas na cauda. A denominação científica atual, Raphus cucullatus, foi estabelecida por Linnaeus (1758), sendo o nome do gênero Raphus derivado da palavra grega "Raphos" usada por Galeno para descrever a abetarda e o epíteto específico cucullatus alusivo a “encapuzado”, uma referência à forma da cabeça do pássaro ou ao desenho inicial da ave feito por Carolus Clusius. Ao longo da história, também foi chamado de Didus ineptus e Struthio cucullatus.
Descrição
O dodô media entre 62 e 75 cm de altura e pesava de 10 a 18 kg na natureza, podendo ultrapassar 20 kg em cativeiro. Era uma ave robusta, com plumagem acinzentada ou pardo-acinzentada, cabeça nua e cinza, bico grande, curvo e multicolorido (verde, amarelo e preto), pernas fortes e amareladas, e uma pequena cauda com penas encaracoladas. Suas asas atrofiadas impossibilitavam o voo, mas eram provavelmente usadas para equilíbrio e exibição. Alimentava-se principalmente de frutos caídos, sementes, raízes e, ocasionalmente, pequenos invertebrados. Utilizava gastrolitos (pedras ingeridas) para auxiliar na digestão.
O dodô colocava provavelmente um único ovo por vez, em ninhos no solo, o que o tornava extremamente vulnerável à predação. Apesar da fama de desajeitado, estudos recentes indicam que era bem adaptado ao ecossistema da ilha, com pernas robustas e capacidade de correr rapidamente.
As primeiras descrições dessas aves as retratavam como desajeitadas e feias, que "mal podiam se arrastar, pesada e desajeitadamente" e cuja "massa bizarra se sustenta mal sobre dois pés". Cientistas da época classificaram o dodô de diversas maneiras, comparando-o a um pequeno avestruz, um grande pinguim, um frango-d'água, um tipo de albatroz e até mesmo a uma espécie de abutre. A figura mais antiga conhecida do dodô data de 1601 e foi feita por De Bry. Ela representa um animal que havia sido levado vivo para a Holanda por Van Neck, um explorador holandês que esteve em regiões próximas às Ilhas Maurício no final do século XVI. Roelandt Savery pintou o dodô várias vezes, e suas obras podem ser encontradas em Berlim (1626), Viena (1628), Haia, Estugarda, Londres (Zoological Society e British Museum), Oxford e Haarlem.
Na biblioteca do último imperador da Áustria, existe um desenho atribuído a Hoefnagel que se pensa datar de 1620, feito a partir de animais que viviam no aviário do próprio imperador. Em 1842, o zoólogo dinamarquês Johannes Reinhardt propôs a teoria de que os dodôs seriam pombos terrestres, baseando-se no estudo de um crânio que ele mesmo descobriu na coleção real dinamarquesa em Copenhague. Inicialmente considerada ridícula, essa ideia foi posteriormente apoiada por Hugh Strickland e Alexander Melville em uma monografia publicada em 1848 ("The Dodo and Its Kindred"), na qual tentaram separar o mito da realidade sobre os dodôs.
Strickland se dedicou ao estudo da anatomia do dodô, verificando que ela era muito similar à dos pombos em diversos aspectos. Ele observou, por exemplo, que apenas a extremidade do bico do dodô era queratinizada, sendo a maior parte remanescente frágil e pouco protegida. Essas características, semelhantes às dos pombos, incluem: A presença de pele sem penas na região ao redor dos olhos e próxima ao bico. A fronte alta em relação ao bico. A narina baixa no meio do bico e circundada por pele. As pernas do dodô também eram mais parecidas com as dos pombos terrestres do que com as de outras aves, tanto na estrutura das escamas quanto no esqueleto. Os grandes papos retratados nos desenhos antigos igualmente sugerem semelhanças com os pombos.
Essa tragédia não se encerra aí, pois a extinção de uma espécie gera efeitos nocivos sobre outras. Um exemplo é a árvore chamada "Calvária" (ou Tambalacoque), cujas sementes serviam de alimento para o dodô e que agora está à beira do desaparecimento. A semente da Calvária só conseguia germinar depois que o dodô se alimentava de seu fruto, pois o trato digestivo da ave desgastava a casca grossa da semente. Atualmente, restam apenas 13 árvores de Calvária no mundo, e as que ainda resistem têm mais de 300 anos de idade. Sem o dodô, seu dispersor natural, a Calvária corre o risco de desaparecer para sempre.
Descoberta
A primeira descrição conhecida data de 1598, feita por marinheiros holandeses, podendo ser considerado o "começo do fim" da história desta espécie e outras como o Solitário de Rodrigues, o Íbis Terrestre de Reunião, a Galinhola Vermelha de Maurício, a Tartaruga Gigante de Maurício, a Tartaruga Gigante de Maurício de Carapaça de Sela, a Tartaruga de Rodrigues, a Tartaruga Gigante de Rodrigues e a Tartaruga Gigante de Reunião. Desde então, a ave foi intensamente caçada por marinheiros ao passarem próximos a essa ilha, justamente pelo fato de não poderem voar, serem desajeitados e possuirem grande quantidade de carne. Eles paravam para estocar comida abatendo o máximo de animais que encontrassem. Foram também afetados pela introdução de animais como cães, porcos, gatos, ratos e macacos, que predavam seus ninhos e competiam por alimento. O último registro amplamente aceito de um dodô vivo ocorreu em 1662. Restos fósseis foram encontrados principalmente no pântano Mare aux Songes, em Maurício, possibilitando estudos anatômicos e genéticos. Um dos poucos exemplares preservados em museus foi a famosa cabeça e pé do Dodô de Oxford, usados em estudos no século XIX.
O dodô foi "perdido" pela segunda vez quando cerca de 99% dos seus restos em acervos de museus e coleções foram extraviados. Os estudos sobre a espécie caíram na obscuridade, sendo resgatados apenas graças ao trabalho dos pesquisadores Hugh Edwin Strickland e Alexander Gordon Melville, que reacenderam o interesse pelo dodô. Esse ressurgimento foi tão intenso que a espécie chegou a ser mencionada no clássico livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.
Classificação
Estudos de DNA confirmam que o dodô estava intimamente relacionado aos pombos, sendo seu parente vivo mais próximo o pombo-de-nicobar (Caloenas nicobarica). Seu parente extinto mais próximo era o solitário-de-rodrigues (Pezophaps solitaria), ambos compondo a Subfamília †Raphinae. Algumas espécies extintas foram, de forma equivocada, classificadas inicialmente como espécies de dodô. Entre elas estão o extinto Solitário de Rodrigues (originalmente descrito como Didus solitarius) e o Íbis Terrestre de Reunião (descrito como Raphus solitarius). Um esqueleto encontrado na Ilha Rodrigues no século XVII levou Abraham Dee Bartlett a nomear uma nova espécie (Didus nazarenus) em 1852, por acreditar pertencer a uma nova espécie de dodô. Posteriormente, verificou-se que o esqueleto, na verdade, pertencia a um Solitário-de-Rodrigues. Desenhos antigos da extinta Galinhola Vermelha de Maurício (Aphanapteryx bonasia) também foram, em certo momento, interpretados como novas espécies de dodôs, sendo descritas como Didus broeckii e Didus herberti.
Dados do Ave:
- Nome: Dodô
- Nome Científico: Raphus cucullatus
- Época: Holoceno
- Local onde viveu: Ilha Maurício
- Peso: Cerca de 23 quilogramas
- Tamanho: 75 centimetros de altura
- Alimentação: Herbívora
Classificação Científica:
- Reino: Animalia
- Filo: Chordata
- Classe: Aves
- Ordem: Columbiformes
- Família: Columbidae
- Subfamília: †Raphinae
- Gênero: †Raphus
- Espécie: †Raphus cucullatus Linnaeus, 1758.
Sinônimos:
- - Struthio cucullatus Linnaeus, 1758.
- - Didus ineptus Linnaeus, 1766.
Referências:
- - Baker, RA; Bayliss RA. (2002). "Alexander Gordon Melville (1819–1901): The Dodo, Raphus cucullatus (L., 1758) and the genesis of a book" (em inglês). Archives of Natural History 29: 109–118. DOI:10.3366/anh.2002.29.1.109.
- - Hume, Julian P. (2006). "The History of the Dodo Raphus cucullatus and the Penguin of Mauritius" (em inglês). Historical Biology 18 (2): 69-93. DOI:10.1080/08912960600639400.
- - Linnaeus, Carl (1758). Systema Naturae per regna tria naturae, secundum classes, ordines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis (in Latin). Vol. 1 (10th ed.). Holmiae (Stockholm): Laurentii Salvii. p. 155.
- - Livezey, B. C. (1993). "An Ecomorphological Review of the Dodo (Raphus cucullatus) and Solitaire (Pezophaps solitaria), Flightless Columbiformes of the Mascarene Islands". Journal of Zoology. 230 (2): 247–292. doi:10.1111/j.1469-7998.1993.tb02686.x
- - Newton, A. (1865). "2. On Some Recently Discovered Bones of the Largest Known Species of Dodo (Didus Nazarenus, Bartlett)" (em inglês). Proceedings of the Zoological Society of London 33 (1) p. 199-201. DOI:10.1111/j.1469-7998.1865.tb02320.x.

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