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Tartaruga

Tartaruga - Tartarugas AVPH

    As tartarugas são animais incríveis, apresentam características únicas, as quais lhes proporcionaram vantagens adaptativas que as tornaram aptas a sobreviver até os dias atuais. Os quelônios habitam em quase todos os continentes (menos a Antártida) e em todos os oceanos.

    São representantes de um grupo pertencente a ordem Testudines ou Chelonia (Chelonia tem origem na palavra grega "kelone", que significa armadura ou escudos entrelaçados). A etimologia da palavra Tartaruga tem origem no latim tardio "tartarucha ou tartaruca" e era utilizada na expressão "bestia tartaruca" ou besta tartaruga, essa expressão se originou da palavra também latina "tartaruchus ou tartarucus", que por sua vez teve origem no grego "tartaroukhos", que significa "besta que habita o Tártaro". O Tártaro é a região mais profunda do inferno grego, onde Zeus aprisionou o mais terrível entre os Titãs, seu pai Chronos. Essa má impressão era gerada devido as tartarugas habitarem em geral locais lamacentos, rastejarem ou caminharem bem próximo ao solo, serem escamosas, entre outras qualidades que não agradavam. Na mitologia grega, Quelone era uma jovem que residia numa casa à beira de um rio. Quando ocorreu as festas de núpcias de Zeus com Hera, o mensageiro Hermes foi encarregado de convidar os deuses, homens e até certos animais para a grande festa dos senhores do Olimpo. A jovem Quelone não compareceu a festa, foi muito lenta e acabou ficando em casa. Notando-lhe a ausência, Zeus puniu-a severamente, condenando-a por ter ficado em casa a levar a própria casa para onde quer fosse e devido a sua lentidão em se aprontar para a festa, tornou-a lenta para sempre. Em outras versões Quelone nutria uma paixão secreta por Zeus e por isso não compareceu e quem lhe puniu foi Hermes lançou-a no rio com casa e tudo e sendo transformada em tartaruga, condenada a transportar para sempre “sua casa” (carapaça) para onde fosse com muita dificuldade.

    No Brasil e apenas nele, as tartarugas terrestres são conhecidas pelo termo jabuti (que significa "O que come pouco" em Tupi-guarani), as tartarugas dulciaquícolas são comumente conhecidas pelo termo "cágado" e as tartarugas marinhas pelo termo tartaruga (HICKMAN et al ., 2004). Nomenclatura esta que visa apenas denominar de forma simples e generalista a extensa variedade de quelônios existentes no planeta, não devendo ser aplicada quando se deseja especificar uma espécie ou até grupo de quelônios. Na verdade para se designar determinada espécie o correto seria utilizar a nomenclatura científica, em casos menos formais, pode-se utilizar a nomenclatura regional (esta última pode provocar confusões devido a existência de nomes idênticos para diversos animais) e generalizando, pode-se utilizar os termos tartaruga terrestre, tartaruga de água doce e tartaruga marinha (Sbrana C.).

   No mundo o idioma padronizado atualmente é o inglês e o termo mais comum utilizado para denominar qualquer quelônio é turtle, podendo variar dependendo da região para termos como tortoise para se referir a espécies de tartarugas terrestres, terrapin ou pond turtles para se referir a espécies de tartarugas dulciaquícolas ou semi-aquáticas, side-necked turtle para as tartarugas que dobram os pescoços para o lado ou cágados e sea turtles ou turtles para as espécies marinhas. Em espanhol utiliza-se a palavra tortuga para generalizar a palavra tartaruga, tanto para as terrestres (tortuga terrestre) quanto para as de água doce (tortuga de rio) e marinhas (tortuga marina), galápago é também um termo utilizado para tartarugas semi-aquáticas e Morrocoy é um termo regional utilizado somente para jabutis piranga ou tinga(Chelonoidis carbonaria, C. denticulata).

   Os quelônios são um grupo de animais únicos por possuírem as cinturas escapular e pélvica interiorizadas num casco formado por placas ósseas suturadas, cobertas por um mosaico de escudos córneos epidérmicos. O casco é composto por uma parte dorsal ou superior denominada de carapaça e uma parte ventral ou inferior denominada de plastrão. Ambas as partes são unidas por uma região composta de estruturas ósseas chamada de ponte. A carapaça é constituída pela fusão das costelas, das vértebras e de diversos elementos de ossificação dérmica, enquanto o plastrão é formado por clavículas, interclavículas e costelas abdominais (POUGH et al., 1996).

   Na maioria das tartarugas, a camada externa é coberta por escamas córneas denominadas escudos que compõe sua "pele exterior" ou epiderme. Esses escudos composto a base de queratina (uma espécie de proteína fibrosa que também compõe as escamas dos répteis). Os escudos se unem e se sobrepõem as emendas entre os ossos adicionando força para a carapaça. No entanto, algumas espécies de tartarugas não possuem esses escudos córneos, evoluíram para se adaptar a condições que exigiam uma carapaça menos rígida, como por exemplo, a Tartaruga de couro marinha e as tartarugas de casco mole, que possuem carapaças cobertas com uma espécie de couro.

   As tartarugas são seres pulmonados com grande capacidade de permanência debaixo d’água, estando em em repouso ou em busca de alimento. Essa elevada capacidade é uma resultante da eficiência de distribuição do oxigênio pelo corpo, somado ao baixo nível metabólico e um pequeno auxílio da "respiração" possibilitada pela troca de gases em órgãos como a cloaca e a faringe (Lutcavage & Lutz, 1997). O casco rígido não deixa as tartarugas respirarem como os outros répteis, alterando o volume de suas cavidades torácicas via expansão e contração das costelas. Ao invés disso, elas passaram a respirar de duas maneiras, sendo a primeira o bombeamento bucal, que puxa o ar para dentro da boca e em seguida, empurra-o para os pulmões através de oscilações do piso da garganta. Secundariamente, utilizam os músculos abdominais que cobrem a abertura posterior do casco, proporcionando o aumento do volume interno do reservatório expandindo-se para fora e puxando ar para os pulmões. Estes músculos funcionam de maneira similar ao diafragma dos mamíferos.

   A principal função do casco das tartarugas é a proteção, pois torna difícil para os predadores esmagar o corpo das tartarugas entre as mandíbulas. Adaptações ao longo dos milhões de anos levaram a outros usos como por exemplo a Tartaruga Panqueca Africana, que tem um casco liso e flexível que lhe permite se esconder entre as fendas de rochas. A maioria das tartarugas aquáticas têm cascos planos, que ajudam na natação e no mergulho (formato hidrodinâmico). Os cágados e tartarugas que vivem em lagoas rasas, mangues e em áreas com excesso de lodo, possuem os plastrões pequenos e em forma de cruz, que lhes permitem movimentar as pernas de forma mais eficiente para caminhar no fundo dos lagos ao invés de nadar. As tartarugas não possuem dentes, mas apresentam lâminas córneas usadas para arrancar pedaços de alimentos. São todas ovíparos e possuem visão, olfato e audição bem desenvolvidos, além de uma excelente capacidade de orientação espacial. Algumas espécies de quelônios representam os maiores répteis do mundo.

   O maior quelônio existente atualmente é a tartaruga de couro marinha (Dermochelys coriacea), que atinge um comprimento de carapaça de cerca de 2,50 metros e pode chegar a pesar de mais de 900 quilogramas e a menor é a Tartaruga almiscarada, que vive na América do Norte e seu comprimento de carapaça é menor do que 13 centímetros. As tartarugas dulciaquícolas são geralmente menores, sendo a maior espécie conhecida, a Tartaruga gigante de casco mole asiática (Pelochelys cantorii), com alguns exemplares podendo chegar aos 2,00 metros. Outra tartaruga dulciaquícola de grande porte é a Tartaruga aligator (Macrochelys temminckii), que é o maior quelônio na América do Norte e atinge um comprimento de carapaça de até 80 centímetros e pesa cerca de 115 quilogramas. As tartarugas terrestres gigantes foram relativamente bem distribuídas em todo o mundo nos tempos pré-históricos (existindo vestígios da presença delas na América do Sul e do Norte, na Austrália e na África), porém os únicos sobreviventes que ainda atingem tamanhos gigantes estão presentes hoje nas Ilhas dos arquipélagos de Seychelles e Galápagos e pode chegar a medir mais de 1,30 metros de comprimento de carapaça e pesar cerca de 300 quilogramas. O maior quelônio que já existiu foi a Archelon Ischyros, uma tartaruga marinha do Cretáceo que podia chegar a medir até 4,6 metros de comprimento de carapaça.

   A ordem Chelonia foi dividida em duas subordens monofiléticas denominadas por Pleurodira e Cryptodira (GAFFNEY et al., 1991). Os indivíduos Pleurodira retraem flexionando o pescoço e a cabeça lateralmente para proteção sob a carapaça, enquanto os Cryptodira executam uma flexão sagital do pescoço para dentro do casco, isto é, em formato de S.

   Subordem Cryptodira Dumeril & Bibron, 1835:

   - A família Cheloniidae: As tartarugas marinhas (4 gêneros e 5 espécies) têm ampla distribuição circuntropical e subtropical, abrangendo todo o globo.

   - A família Dermochelyidae: A tartaruga gigante marinha de couro é a única representante atualmente dessa família que incluí as maiores tartarugas do mundo atual. Ocorre nos mares tropicais, subtropicais e temperados

   - A família Emydidae: (10 gêneros e 35 espécies) incluí a maioria das tartarugas de água doce do hemisfério norte. Os emidídeos alcançaram sua maior diversidade no leste da América do Norte e . São representados América do Sul por um único gênero: Trachemys Agassiz, 1857. Entretanto, não ocorrem na África e Austrália.

   - A família Bataguridae: (23 gêneros e 59 espécies), os batagurídeos alcançaram sua maior diversidade no sudeste asiático. São representados na América do Sul por Rhinoclemmys Fitzinger, 1835. Entretanto, não ocorrem na África e Austrália.
   - A família Testudinidae: Os quelônios terrestres (12 gêneros e 50 espécies), são encontrados em todos os continentes, com exceção da Austrália e da Antártida. As tartarugas terrestres alcançaram grande diversidade na África, ao sul do Saara e na Ásia. Os testudinídeos, mesmo sendo terrestres, conseguem flutuar bem na água e são hábeis em sobreviver longos períodos sem alimento e água, tornando-os aptos a efetuar longas travessias oceânicas. Colonizaram assim diversos continentes e remotas ilhas oceânicas.
   - A família Trionychidae: As tartarugas de casco mole, que compreendem duas subfamílias: Cyclanorbinae (3 gêneros e 6 espécies) e Trionychinae (11 gêneros e 17 espécies). Atualmente, os trioniquídeos são registrados na África, na Ásia, no arquipélago Indo-Australiano e na América do Norte.

   - A família Carettochelyidae: A tartaruga nariz de porco é a única representante atualmente dessa família que está restrita à Nova Guiné e ao norte da Austrália.

   - A família Kinosternidae: Representada por quelônios semiaquáticos que ocorrem do Canadá até a América do Sul e são divididos em duas subfamílias: Staurotypinae (2 gêneros e 3 espécies) e Kinosterninae (1 gênero e 19 espécies).

   - A família Dermatemydidae: A tartaruga de couro do rio da América Central é a única representante atualmente dessa família e como o próprio nome menciona, habita os rios da América Central, Dermatemys mawii Gray, 1847.

   - A família Chelydridae: São as tartarugas mordedoras ou agressivas (3 gêneros e 5 espécies) que habitam as Américas: Chelydra Schweigger, 1812 (3 espécies), com distribuição do sul do Canadá até o Equador e Colômbia e Macrochelys temminckii Troost, 1835, restrito aos Estados Unidos. Conforme GAFFNEY & MEYLAN (1988), Platysternon megacephalum Gray, 1831, originária da Ásia, também pertence a esta família, embora tenha sido considerada por um longo tempo como uma família monotípica Platysternidae.

   Subordem Pleurodira Cope, 1864:

   Constituída por três famílias, Podocnemidae, Pelomedusidae e Chelidae. Os podocnemídeos e os pelomedusídeos foram, durante muito tempo, considerados apenas subfamílias (Podocneminae e Pelomedusinae) de uma grande família, Pelomedusidae, mas estudos recentes atribuíram a elas o status de família (SHAFFER et al., 1997). Atualmente, a subordem Pleurodira está restrita aos continentes meridionais.

   - A família Pelomedusidae: (2 gêneros e 17 espécies) ocorre na África, incluindo Madagascar e outras ilhas do Oceano Índico.

   - A família Podocnemidae: (2 gêneros e 7 espécies) os podocnemídeos estão distribuídos na América do Sul tropical, além de um gênero monotípico em Madagascar, embora a distribuição no passado tenha sido mais ampla; fósseis desta família foram encontrados na Europa, na Ásia e nos continentes africano e norte-americano.

   - A família Chelidae: Os quelídeos ocorrem na América do Sul e Austrália e é o único grupo de quelônios de origem gondwânica (GAFFNEY & MEYLAN, 1988). Estes autores reconheceram duas subfamílias: Pseudemidurinae, monotípica, com ocorrência na porção sudoeste da Austrália, e seu grupo irmão Chelinae (10 gêneros e 40 espécies), o qual inclui todos os outros táxons de quelídeos sul-americanos e australianos. as linhagens australianas e sul-americanas são consideradas grupos irmãos (SHAFFER et al., 1997).

   Algumas família de quelônios extintas são:

   Subordem Cryptodira Dumeril & Bibron, 1835:
   - Família †Meiolaniidae Lydekker, 1887.
   - Família †Protostegidae Cope, 1872.
   - Família †Thalassemyidae Rütimeyer, 1878.
   - Família †Toxochelyidae Baur, 1895.
   - Família †Haichemydidae Sukhanov & Narmandakh, 2006.
   - Família †Lindholmemydidae Chkhikvadze, 1970.
   - Família †Sinochelyidae Chkhikvadze, 1970.
   - Família †Adocidae Cope, 1870.

   Subordem Pleurodira Cope, 1864:
   - Família †Araripemydidae Price, 1973.
   - Família †Dortokidae Lapparent de Broin & Murelaga, 1996.
   - Família †Euraxemydidae Gaffney, Tong & Buffetaut, 2006.
   - Família †Platychelyidae Brän, 1965.
   - Família †Proterochersidae Nopcsa, 1928.
   - Família †Bothremydidae Baur, 1891.


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